Conheça a brasileira que perdeu uma perna, venceu um câncer e virou atleta recordista
A recifense Roseane Ferreira da Silva, mais conhecida como Rosinha, viu sua vida mudar quando, 1990, sofreu um grave acidente de carro que resultou na amputação da sua perna esquerda. Até então, Rosinha trabalhava como empregada doméstica e na ocasião se viu com um grande desafio pela frente: como iria manter sua independência? Rosinha deu um jeito. E que jeito que essa mulher deu…
Desde 2009 morando no Rio de Janeiro, a ex-empregada doméstica virou uma atleta paraolímpica com mais de 50 medalhas de ouro no currículo e tetracampeã dos Jogos Panamericanos.
No especial do POP, Semana da Mulher, em homenagem ao dia 8 de março, confira trajetória dessa atleta especialista em lançamento de disco, dardo e arremesso de peso.
A transição dolorosa
Antes de apostar no mundo do esporte, Rosinha trabalhou como empregada doméstica por seis anos. E a transição para o atletismo paraolímpico não foi tão fácil. “Eu nunca imaginei ser atleta, muito menos uma atleta paraolímpica”, conta. Segundo ela, logo após o acidente, ficar sabendo que perderia a perna foi algo devastador. “Eu fiquei pesando: por que com tanta gente no mundo que quer o mal das outras pessoas, eu, que nunca desejei nada de ruim, é que perderia a perna? Eu não entendi e nem podia imaginar como seria”.
Ela conta que pediu ao médico que não a deixasse morrer e, quando acordou, após a cirurgia, só assimilou que estava sem a perna esquerda quando sentiu vontade de ir ao banheiro.
A procura por emprego foi difícil, já que muita gente não confiava que ela pudesse concluir as tarefas. Ela chegou a trabalhar por comida e depois começou a vender roupas como autônoma.
Mas ninguém poderia prever que a oportunidade para mudar de vida bateria por acaso à porta de Rosinha.
Das dificuldades aos recordes
Diferente de muitos atletas, que sonham com a glória e iniciam seus treinos desde cedo para alcançar a vitória, Rosinha não tinha a pretensão de entrar no mundo do esporte – o que só viria a acontecer em 1999. A atleta relata que certo dia estava em frente à própria casa na capital pernambucana quando um homem apareceu perguntando se ela gostaria de “se tornar atleta”. “Achei que fosse piada, mas ele explicou que tinha esporte para pessoas que não têm uma perna, um braço…”, diz.
De início, a proposta não causou muito ânimo. Mas depois de muita insistência do irmão, ela decidiu ir fazer os testes. Logo no primeiro dia, Rosinha atingiu a marca de 13 metros no lançamento de disco, arrancando elogios e previsões de que poderia se tornar uma atleta recordista. “Eu nem sabia direito o que era isso, mas quando ele disse que como recordista eu poderia dar uma casa para a minha mãe, eu decidi treinar”.
Rosinha lembra que, apesar de ser parabenizada por muita gente, o namorado desprezava os títulos que conseguia em território nacional. “Ele disse que qualquer um podia conquistar o ouro no Brasil, que difícil mesmo era ganhar um mundial”, desabafa. Por isso, quando foi selecionada para competir no Mundial da Inglaterra pensou em desistir. Uma ida à igreja e muita reflexão a fizeram aceitar o convite e ficar lado a lado com atletas de 19 países diferentes.
Em meio à concorrência acirrada, Rosinha ficou em quinto lugar. Mesmo admitindo que na época não entendia por que a colocação rendeu congratulações, ela continuou treinando e conquistou o ouro e bronze no Parapan do México, em 2011, onde também ficou a nove centímetros de bater o recorde mundial de lançamento de disco. “Foi aí que comecei a entender a importância de uma medalha de ouro para o Brasil”, completa.
A perseverança da atleta rendeu mais de 50 medalhas de ouro e quatro títulos vitoriosos nos Jogos Panamericanos, sendo dois deles em sua primeira Paraolimpíada em Sidney (2000), no arremesso e lançamento de disco. Em Atenas, ela levou a melhor marca mundial no lançamento de disco.
Saúde e Rio 2016
O Rio de Janeiro vai ser a sede dos jogos de verão da 31º Olimpíada, que será realizada entre os dias cinco e 21 de agosto do ano que vem. Apesar da convocação de quem vai competir ainda não ter sido divulgada, Rosinha já se prepara diariamente, assim como outros atletas.
A responsabilidade de ser uma competição em casa, na cidade em que Rosinha resolveu chamar de lar desde 2009, parece pesar um pouco mais.
O ano passado não foi fácil para nossa atleta, em 2014 foram oito meses longe do esporte, em tratamento para curar um câncer na garganta. “É como se eu estivesse iniciando (no esporte novamente). Bate um nervosismo”, admite.
No entanto, ela venceu a doença e só precisará fazer acompanhando médico a cada três meses.
Às jovens mulheres atletas ela só aconselha: “Fé em Deus e ame ao próximo. Nunca esqueçam de serem felizes e se cuidarem. Cuidem da saúde, que é o único bem valioso que temos”.
Pode deixar, Rosinha. Não somos atletas como você, no entanto vamos ficar na torcida e acompanhando sua trajetória cheia de vitórias. E que todos os dias sejam motivos de celebração do poder feminino, não somente no Dia Internacional da Mulher.
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