Crítica: "Sniper Americano"

Não dá para reclamar de falta de ecletismo entre os indicados ao Oscar de 2015. Tem filme para quem curte biografias, sátiras e música. Claro, também sobra um espacinho para os dramas de guerra, que todo ano beliscam um espaço nas listas de candidatos.

Em 2015 tivemos o fantástico “O Jogo da Imitação”, mas também “Sniper Americano”, que mais parece ter sido incluído como um pensamento de última hora, aproveitando o calor da estreia, a atenção da mídia e o ufanismo norte-americano para emplacar uma vaguinha.

Afinal, é difícil ver uma propaganda política tão travestida de filme quanto o novo longa de Clint Eastwood. Embora o diretor siga competente como sempre, transformando suas belas tomadas de combate urbano em um verdadeiro faroeste militar, fica difícil continuar prestando atenção no assunto batidíssimo do longa após 20 ou 30 minutos.

A trama adapta o livro “American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Military History”, e como o próprio nome indica, mostra a vida do atirador de elite Chris Kyle, tanto dentro como fora dos campos de batalha.

Como a paranoia com o terror nunca será um assunto desgastado nos Estados Unidos, os ataques terroristas de 11 de setembro acabam servindo de pretexto para toda a motivação do “herói” Kyle, disposto a largar sua família em prol do bem maior: partir para o Oriente Médio numa tentativa de destruir o “inimigo”.

Seria ótimo se o filme tratasse os tais heróis e inimigos com as mesmas aspas que utilizamos no parágrafo acima, mas o que se vê na prática é muito pouco – ou nenhum – comentário político e social, e muita propaganda de alistamento do Tio Sam. Não há qualquer subtexto ou sutileza no roteiro de Jason Hall, mesmo quando Kyle se vê obrigado a matar mulheres e crianças em nome de seu país.

O filme se limita tão somente a narrar a transformação do soldado em uma verdadeira lenda entre seus companheiros de batalhão. Entre sucessivas campanhas vitoriosas repletas de baixas inimigas (mais de 150!), Kyle passa a ser adorado e temido na mesma medida.

Até o trabalho de Bradley Cooper parece um tanto superestimado se levarmos em conta outras ótimas interpretações (Jake Gyllenhaal, alguém?) que ficaram de fora do páreo do Oscar esse ano. Tudo bem que é impressionante ver a transformação física do ator na tela, agora com ombros gigantes e com músculos tão pesados quanto seu sotaque texano, mas na prática o seu atirador passa tantas emoções em tela quanto o ciborgue T-800 de Arnold Schwarzenegger em “O Exterminador do Futuro”.

Previsível, burocrático, arrastado e dono de um patriotismo brega e deslocado, “Sniper Americano” não é apenas o mais fraco indicado ao Oscar de melhor filme, mas também um longa tão sem propósito quanto as intervenções militares dos Estados Unidos em outros países.

[avaliaodefilmes titulo_org=”American Sniper” titulo_pt=”Sniper Americano” lancamento=”19 de fevereiro de 2015″ duracao=”132 min” genero=”Guerra, Drama” diretor=”Clint Eastwood” elenco=”Bradley Cooper, Sienna Miller, Kyle Gallner” avaliacao=”1″ cartaz=”http://alemdooscar.pop.com.br/wp-content/uploads/sniper-poster.jpg” data_review=”19 de fevereiro de 2015″][/avaliaodefilmes]

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