O torcedor brasileiro talvez seja injusto com Fabiana Murer. Única atleta do Brasil (levando em consideração homens e mulheres) a ser campeã mundial tanto indoor quanto outdoor, a saltadora muitas vezes é lembrada pelas duas campanhas abaixo do esperado das Olimpíadas de Pequim-2008 e Londres-2012. Mas tudo isso é passado. Novamente entre as melhores do mundo, Fabiana quer encerrar a carreira com chave – ou melhor, medalha – de ouro.
Paulista de Campinas, a esportista começou bem esta que será sua última temporada. Campeã do último torneio que disputou, na França, com um salto de 4,71m, Fabiana pretende fazer um bom Campeonato Mundial Indoor em Portland, EUA, em março, para adquirir ainda mais confiança e alcançar o tão sonhado pódio olímpico no Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva ao POP, a saltadora conta como será a preparação até o grande evento e como lida com a pressão de competir em casa.
A melhor marca pessoal de Fabiana também é o recorde sul-americano: 4,85m (Agência Luz/BM&FBOVESPA).
O foco deste ano é, sem dúvida, a Olimpíada no Rio de Janeiro. Como será a sua preparação até lá?
Meu treinamento começou em outubro de 2015, já com foco para 2016. Foi tudo bem, dentro do previsto, não tive problemas com lesões. Em janeiro, comecei a treinar o salto com 18 passadas, que é meu salto de competição. Estreei na temporada em pista coberta no dia 30, em São Caetano do Sul, com vitória, e estou muito animada. Vou competir na Europa em fevereiro e, em março, tem o Mundial Indoor em Portland. Lá vou encontrar as outras saltadoras, ver como elas estão competindo. Também vou disputar o evento-teste, em maio, algumas etapas da Diamond League, e o Troféu Brasil, em julho.
Você traçou uma meta para a sua participação nos Jogos? Está unicamente de olho no pódio ou você busca uma marca específica?
Meu objetivo é a medalha, não importa a cor. Para conquistá-la, preciso estar bem física e tecnicamente. Tenho que saltar alto, o mais alto possível, e fazer com que esse salto seja o suficiente para que eu consiga conquistar uma medalha. Acredito que as atletas que conseguirem saltar perto de 4,90 m estarão na zona de medalhas.
Prestes a completar 35 anos, a saltadora possui quatro medalhas em mundiais, incluindo dois ouros (Agência Luz/BM&FBOVESPA).
Como você vê a disputa atualmente por uma medalha no Rio no salto com vara feminino?
Acredito que será parecido com o que foi o Mundial de Pequim [o pódio foi constituído por Yarisley Silva, Fabiana Murer e Nikoleta Kyriakopoulou]. Mas temos que esperar como a temporada vai se desenrolar. É quando nós vamos ter realmente uma noção. A Yarisley, atual campeã mundial, é uma excelente saltadora, assim como a Jennifer Suhr, campeã olímpica em Londres. E existem outras grandes atletas que certamente podem buscar medalha na Olimpíada, como a Nikoleta Kyriakopoulou, que está crescendo.
Como será a sensação de buscar um título olímpico dentro de casa? O fator torcida é mais positivo pelo incentivo ou negativo pela pressão?
Participar de uma Olimpíada, e de todas as grandes competições, sempre dá um frio na barriga. É natural de toda disputa. Mas estou tranquila, vou enfrentar as mesmas atletas que encontro por aí. Juntando isso com meus anos de experiência, fico tranquila. A força da torcida é muito importante. É uma pressão, claro, mas influencia positivamente, eu gosto de ter a torcida a favor. E o atleta tem de saber lidar com a pressão, porque faz parte.
O pódio do último mundial foi composto pela cubana Yarisley Silva (ouro), Fabiana (prata) e a grega Nikoleta Kyriakopoulou (bronze) (Getty Images).
Você é a única campeã mundial do Brasil no atletismo e grande destaque da história nacional do salto com vara. Na sua carreira inteira, qual foi o momento mais marcante? E a maior decepção?
O momento mais marcante foi quando eu fui campeã do mundo em pista aberta, em Daegu, na Coreia do Sul, em 2011. Foi muito legal, é uma grandiosidade absurda. Eu já tinha sido campeã do mundo em pista coberta (em Doha-2010), mas em pista aberta é muito maior… Tem todo o evento, o glamour. Minha maior decepção foi não ter conseguido me classificar para a final da Olimpíada de Londres, em 2012.
Pensando no futuro, o que acontecerá após os Jogos Olímpicos do Rio? Você pensa em aposentadoria?
Depois dos Jogos eu ainda tenho algumas competições, etapas da Diamond League, e depois eu paro. Após a Olimpíada é a hora de parar, por causa da minha idade e também porque é muito difícil manter a motivação – aguentar o treinamento, porque são muitas horas de treino, e também as dores. É difícil decidir quando parar, mas sempre quis parar no auge. Até pensei em parar depois de 2014, mas como tinha a Olimpíada no Rio, decidi continuar mais um pouquinho, desde que tivesse condições de saltar alto, o que vem acontecendo.